Sempre cercado de controvérsia, Jaime Bayly (Lima, Peru, 1965) tornou público que sofre de um tumor cerebral, quase ao mesmo tempo em que publicava “A chuva do tempo” (Alfaguara). Um livro com caráter autobiográfico e em que mais de um robusto correu mal parado.
Desde a tranquilidade de tua aposentadoria, em Miami, esse excêntrico escritor e jornalista faz um balanço de uma trajetória que bem merece a tua própria novela. O livro “recria” a tua existência na tv, contudo, como Eu vivi em Lima uma história parecida, não idêntica, que me serviu como matéria-prima para acender a fogueira da ficção.
quem sabe você tenha ferido a sensibilidade de alguns dos protagonistas que aparecem. Torço que sim. Um romance que não fere sensibilidades é um mau romance. As novelas têm de ferir, ofender, foda-se, revolver as entranhas dos poderosos. Você sentiu terror alguma vez na tua exibição televisiva?
Medo, não. Rejeição, sim. Vargas Llosa, me jogaram ovos, tomates, pintura no rosto, no momento em que fui votar, me gritaram, me ameaçaram de morte. Muito surpreso com a valentia com que enfrentou a tua doença, disponibilizando-o, em sua coluna semanal. “Tomava diversas drogas, e não pensava entrar a velho, deste jeito eu escrevi com emergência”-Eu estou mentalmente doente desde garota, visto que sou filho de um militar frustrado e uma freira frustrada, supernumeraria do Opus Dei.
- Dois Frente Compromisso pra Mudança
- IRMÃOS KARAMAZOV
- as mãos: que chochea. faculdades físicas e mentais prejudicadas por efeito da idade
- sete A vingança do Cavaleiro da Lua
E saí escritor, porra, não inteiramente gay, quase inteiramente, bissexual de um modo errático e pouco credível, eu sei que em cada caso. Todas as outras doenças e enfermidades que têm me feito me pareceu pouca coisa pelo motivo de eu sei mentalmente doente, deficiente, deficiente. É Dessa maneira que sou escritor. Você encontra que tem vivido ligeiro? Desde muito jovem eu queria ser escritor.
E como tomou várias drogas pensava que não ia voltar a velho e tinha que escrever certas coisas urgentemente, sem aplazarlas nem posponerlas. Incrivelmente, estou a meio ano de cumprir cinqüenta e quem sabe a metade das coisas que eu tenho postado poderia habérmelas economizado. Mas não há dia em que não escreva, dia que não escrevo é um dia desanimado.
Qual o nível de aceitação têm hoje os bissexuais no Peru? Muito marginal. Este governo medíocre e opaco de Humala não tem feito nada por defender o casamento homossexual e acabar com a distinção contra as minorias sexuais. A desculpa é descomplicado: a maioria se opõe. O que se traz imediatamente entre mãos?
o Tenha escrito qualquer coisa mais do que “A chuva do tempo”? Você Se arrepende de alguma coisa? De ter lançado a minha ex-esposa e minhas duas filhas mais velhas do departamento que lhes regalé, mas tive o cuidado de deixar o meu nome. Foi uma insensatez. Me porté como um idiota.
Eu fiquei com um departamento vácuo, espantada, maligno, e perdi duas filhas, que, desde assim, não querem me visualizar. Você fica qualquer coisa por fazer, visto que, como escreveu, “em conclusão” é rico? Continuar a escrever. Terminar uma novela sobre como um homem apaixonado por uma mulher muito jovem, por ter uma filha com ela, perde o carinho de suas filhas mais velhas.